sábado, 24 de abril de 2010

"You know I'd give you everything I've got for a little peace of mind"


O poeta pede um brinde à sua nova vida
Seus poemas encenaram a guerra que passou
Suas palavras, agora, eram como novas
Do outro lado da mesa uma palavra ouvia tudo
E reclamava que, justo ela, fora transgredida
Pra agradar aos que não se calaram
Ora, cale-se então poeta! Ela sabe mais que você,
Que fica lhe dando tantas formas.
Ela sabe o que lhe cabe. E a você cabe o que lhe sabem.

O escritor lancinado ergue a taça aos seus heróis
Marx, Vargas, Aleijadinho e José,
Aquele mesmo do retrato na parede.
Ele nem se lembra mais porque colou aquilo ali.
Acha que fora uma promessa
Uma promessa p`ra vencer na vida
Ou lhe era algum amigo de infância
Mas como podia se lembrar? Fazia tanto tempo
Nada na vida lhe fazia falta...

Essa só pelo diabo! Gritou uma donzela desvairada,
Que recebe seu dinheiro e nada mais que isso
Nem ao menos um 'bom dia' de quem levanta ao seu lado
Enquanto isso, todos riam ao seu redor
Mostrando-lhe o quanto era grotesca
E ela, princesa de si, ignora, p`ra chorar mais tarde em seu lençol.

-Pai não vá embora agora, que essa é por minha conta!
Eu que não ganhei nada, só trago nessa velha camiseta usada
Minha foto com o José, - aquele mesmo da parede -
Que também não ganhou nada, mas que também não teve chance.
Pelo menos morreu no anonimato de ser idolatrado por, ao menos, uma pessoa...

"Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão"... "´perdemos a altura, puxaram o tapete voador"



Não me olhe, não!

Com esses olhos de quem vai embora.

No passo de agora vamos até de manhã

Assim, com medo do mundo lá fora.

E a gente sem jeito, se amando por medo.

Por deus!

que exista outra hora!

A hora de agora é só p’ra nós dois!

Não me olhe, não,

Como quem diz “eu te amo agora!”

Não podemos amar, pois o mundo lá fora

Odeia a nossa paixão de ocasião.

Nos amamos aqui agora. E depois, nunca mais.

Nós amamos aqui. Nessa hora não somos como os demais:

Amantes de todos os dias

Amantes como queriam.

Errados amantes banais!

Nós amamos a chuva lá fora,

Pois depois nunca mais.

Odiamos o mundo que nos odeia.

Nos rodeiam os normais.

E por hoje é só, até logo

Ouça os gritos lá fora:

Malditos amantes banais!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"I've got nothin' to say, I've got nothin' to give, got no reason to live. I've got nothin' to hide. Wish I wasn't so shy"

Primeiro copo:

Entram em cena a imagem dela e a vontade de pensar sobre todas aquelas coisas chamadas de amor e sobre todas as outras que o são.

A imagem é clara, os diálogos simples. A imagem fala todas aquelas coisas chamadas de verdade e o pensamento entende todos os quereres narcísicos.

Segundo Copo:

A primeira batalha. Um sentimento ferido, algumas moléculas de coragem de dizer tudo aquilo que deve ser dito, e o que fica é tudo aquilo que parece ser ouvido.

Arrisco-me a dizer que o tudo aquilo que pareceu ser ouvido voltará todos os dias, para o resto de tudo aquilo que acreditam ser suas vidas.

Terceiro Copo:

Sai de cena a imagem, fica o pensamento confuso, levemente ébrio, abaladas suas certezas sobre si.

Agora é um diletante, amargo e teimoso sobre aquilo que chamava de amor. Seu séquito, o ciúme e o rancor, lhe dão respaldo.

Quarto copo:

Ele procura a imagem dela pela cena. Não está mais ali. Fica tudo aquilo que fora dito, fica o seu séquito, fica o braço pendurado sobre a cadeira, a cabeça pendendo para o lado, a música que o condena.

Entra em cena tudo aquilo que poderia ter sido, antes jovens, agora decadentes e frágeis, para lhe velar.

Quinto copo:

Fecham-se as cortinas. O próximo espetáculo se dará em alguns meses. A primeira cena contará com o arrependimento, mas o roteiro não sofrerá muitas mudanças.

Assim se passarão os anos. Todas as coisas que pensamos em fazer e todos os últimos copos entornados para contar o que foi feito.

sábado, 29 de agosto de 2009

"all I want is the best for our lives, my dear. And, you know, my wishes are sincere"


Eros miserável (parte 5)


Será tarde demais para pedir perdão?(novamente). Será o perdão tão caro, que não vale a pena, sequer o lamento, a culpa e o júbilo? Será o júbilo tão banal que se perde em meio aos lamentos e contravenções? Serão as contravenções tão óbvias e sucumbidas a juízo de valor? Será meu amor tão mesquinho a ponto de portar riqueza que provém de seus desgostos, beleza, que mantém os meus lamentos, frieza, que não há nos meus desejos? Não me enlouqueço a falar de desejo. Desejo puro, desejo caro, desejo raro e gracejo ébrio. Que dirá dos meus lamentos?



sexta-feira, 28 de agosto de 2009

"I was the dreamweaver, but now I'm reborn. I was the walrus, but now I'm John. And so dear friends, you just have to carry on. The dream is over."

Carta de um suicida anônimo...



Caros enlutados,

Deixo-lhes estas poucas e últimas palavras, pois não lhes negaria a lembrança devida, nem é minha intenção deixar-lhes mistério sobre meus motivos. A verdade é que cansei das culpas que me atribuíam.

Ao longo do tempo me convenceram de que eu era responsável por coisas que eu não sabia. Ora, se as pessoas estavam com fome, eu tinha minha participação, se o mundo está acabando, também era de minha responsabilidade agir nisso.

Convenceram-me, esses tais, que toda minha vida era uma peça no maquinário que destruía as florestas e a camada de ozônio, que criava esse ar grotesco que respiramos, que criava essa água podre que, corajosamente, ainda bebemos. Disseram-me que meu bife era um pedaço da Amazônia e mais litros de água do que uma criança toma por semana em certos países, que pago a morte de crianças com meu baseado diário, que mato de fome centenas de conterrâneos com meu voto indiferente.

Deram-me tanta responsabilidade que cheguei a esta missiva que lêem agora.

Não estou nesse mundo para salva-lo, mas não quero viver sabendo que estou matando-o

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"you always say your name. like I woulden't know it's you, at your most beautiful."



Estava te mostrando o que eram aquelas estrelas,

O que continha aquela imensidão.

Tu entendeste meus braços,

Que te envolviam famintos.

Enquanto te falava como era bom te ver dormir,

Entendias o mundo e sabias que o mundo amaldiçoava.

Enquanto eu me deleitava com nossos suores,

Tuas mãos tremiam sentindo que em poucos minutos

Aquele suor secaria, evaporaria.

Eu ria, tu entendias a verdade sobre o humor

Eu recitava, tu cantavas a canção do rádio ao lado

Eu olhava pela janela, tu fechavas a porta do quarto

Eu dizia “até mais”, tu dizias “espero que voltes”

Até quando nos batíamos: eu te pedia perdão,

Tu entendias os segundos gastos no perdão.

Eu te conduzia, tu me consumias

Quando o dia surgia para mim, a noite acabava para ti

Entendias os pratos do dia

Da imoralidade, que em mim era poesia

Entendias da fome, fardo da longevidade

Entendestes, antes de mim, a saudade

Essa ficou.

Entendestes o porvir

E essa que ficou,

A saudade, é o reconhecimento pelos dias felizes

Nos quais eu escancarava os braços para o mundo

E tu me abraçavas. Não como quem se deita,

Como quem não me deixa sair da cama e abrir as cortinas

- Não há p´ra que olhar lá fora.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais. Faríamos floresta do deserto, e diamantes de pedaços de vidro"

Eu só posso ser assim e isso é tudo que posso te dar

escrever-te, encontrar-te, contar-te de mil viagens

pelo breu, pelo mar, de quando andei só

de quando fui os outros, das palavras que já usei

pra me cobrir do frio

de figuras que escrevi pra me entender tão mal.

Eu só posso ser assim, nem Caruso, nem Enfil

nem cortejo, nem te animo

só contando minhas mentiras, escrevendo minhas passagens

escrevendo tudo que eu já quis um dia ser

tudo que fui por minutos

enquanto te escrevia sobre todos os meus sonhos

Eu só posso ser assim

é uma maldição

sem armas, sem alardes,

com remorsos, sem pesares

Se pensares, posso ser tudo que todos imaginam

e por tão pouco tempo

mas nunca posso ser nada

nunca posso não ser

sou tudo e mais um pouco do que te escrevo numa carta.

Sou tão eu em cada palavra e não sou mais nada

além de espírito de um conto de fadas

sou tão teu em meus poemas e não sou nada

estou preso numa frase e não entendo nada

e se choro nesse verso, dou risada

pois dou de frente com minha cara

dou de ombros assombrado

com o poder dessas palavras

com poder ser e não ter nada

em ser só eu, já que perto de mim

nessas frases, não sou nada.