terça-feira, 19 de maio de 2009

"A minha escola não tem personagem, a minha escola tem gente de verdade"





A seguir, contarei uma história triste:


A primeira personagem é Amor, uma meretriz aviltada pelas bocas diversas, que de tudo ouviu sobre seu nome. Prostituta tímida, que não tem uma cara, não tem companhia, não passa do ideal dos pobres de espírito. Pobre dela. Traz no nome tudo que o mundo não tem, mas não possui, em si, o que o mundo quer. Amor é puta, Amor dá-se de qualquer jeito, Amor não passa do relicário que nunca teremos em mãos, por vinte contos de réis ou por mais de uma hora. Pobre dela, não quer mais que um lugar, longe dessas bocas desalmadas que envilecem seu nome, longe desses corpos animosos e crédulos de piedade. Amor não quer sua piedade, nem sua devoção. E são tolas as almas desse enredo, pois crêem que essa personagem lhes quererá. Amor não quer vocês, bêbedos pedantes e ignorantes. Quem lhes quer não vive esta prosa. Solidão lhes encontrará um dia.

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Nossa próxima personagem se chama Vaidade: uma coruja sábia. Dona das vidas, enxerga mais que seus viventes. Vidente, não perde uma luta sequer. Curinga. Tem, debaixo de uma asa, o calabouço dos inseguros, e sob a outra, o cárcere dos augustos. Vilã, logra Amor, transforma-a em coadjuvante miserável, em auto-penitente cristã, pois seus seios e sua face se fazem lago narcísico para a outra. Vaidade corrompe, degenera, é cataclísmica. Sua força vem da impureza dos Homens, da idiotice Romântica de Amor e da megera beligerância dos deuses. É cúmplice de Hera – ciumenta – e carrasco de Athena – tola. É, acima de tudo, sedutora.

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Por último, nessa trama, o Sexo. Pueril adolescente, de explosão inconseqüente e motriz. Mas que não é dotado da malícia sorrateira dos demais. É um pária aventureiro, sincero e acéfalo. Sexo é a tradução do forte bobo. É vigoroso, mas tapeado sub-repticiamente pelos algozes de intelecto voraz. Não deseja mais nessa vida que a eternidade ao lado de Amor. Doce ilusão. Já vos mostrei que aquela não se dá mais que quimericamente. Acreditou, esse tolo ídolo, que a Providência selaria tão absurdo casamento. Crente das palavras falazes da Vaidade, foi alvo de imenso engano. Este é o nosso personagem Sexo, que, pueril, como já falado, deixa-se abater pelo desleixo a que é relegado, deixa-se sobrepujar por uma Amor fugaz e indecisa e é manipulado pela Vaidade sábia e maliciosa.


Bom... O que acontece ao longo da história vocês já conhecem. É novela.


p.s. "a vida copia a poesia"




Um comentário:

  1. Será que não tem personagem? Não temos amigos imaginários, mas temos amigos inacreditáveis...

    Foi o que eu sempre pensei. Não é o sexo que é lascivo. É só a Lascívia que não consegue mais sair de perto dele.

    'Tadinho... Sofre por associação.

    Amo você.

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