Entram em cena a imagem dela e a vontade de pensar sobre todas aquelas coisas chamadas de amor e sobre todas as outras que o são.
A imagem é clara, os diálogos simples. A imagem fala todas aquelas coisas chamadas de verdade e o pensamento entende todos os quereres narcísicos.
Segundo Copo:
A primeira batalha. Um sentimento ferido, algumas moléculas de coragem de dizer tudo aquilo que deve ser dito, e o que fica é tudo aquilo que parece ser ouvido.
Arrisco-me a dizer que o tudo aquilo que pareceu ser ouvido voltará todos os dias, para o resto de tudo aquilo que acreditam ser suas vidas.
Terceiro Copo:
Sai de cena a imagem, fica o pensamento confuso, levemente ébrio, abaladas suas certezas sobre si.
Agora é um diletante, amargo e teimoso sobre aquilo que chamava de amor. Seu séquito, o ciúme e o rancor, lhe dão respaldo.
Quarto copo:
Ele procura a imagem dela pela cena. Não está mais ali. Fica tudo aquilo que fora dito, fica o seu séquito, fica o braço pendurado sobre a cadeira, a cabeça pendendo para o lado, a música que o condena.
Entra em cena tudo aquilo que poderia ter sido, antes jovens, agora decadentes e frágeis, para lhe velar.
Quinto copo:
Fecham-se as cortinas. O próximo espetáculo se dará em alguns meses. A primeira cena contará com o arrependimento, mas o roteiro não sofrerá muitas mudanças.
Assim se passarão os anos. Todas as coisas que pensamos em fazer e todos os últimos copos entornados para contar o que foi feito.
Será tarde demais para pedir perdão?(novamente). Será o perdão tão caro, que não vale a pena, sequer o lamento, a culpa e o júbilo? Será o júbilo tão banal que se perde em meio aos lamentos e contravenções? Serão as contravenções tão óbvias e sucumbidas a juízo de valor? Será meu amor tão mesquinho a ponto de portar riqueza que provém de seus desgostos, beleza, que mantém os meus lamentos, frieza, que não há nos meus desejos? Não me enlouqueço a falar de desejo. Desejo puro, desejo caro, desejo raro e gracejo ébrio. Que dirá dos meus lamentos?
Deixo-lhes estas poucas e últimas palavras, pois não lhes negaria a lembrança devida, nem é minha intenção deixar-lhes mistério sobre meus motivos. A verdade é que cansei das culpas que me atribuíam.
Ao longo do tempo me convenceram de que eu era responsável por coisas que eu não sabia. Ora, se as pessoas estavam com fome, eu tinha minha participação, se o mundo está acabando, também era de minha responsabilidade agir nisso.
Convenceram-me, esses tais, que toda minha vida era uma peça no maquinário que destruía as florestas e a camada de ozônio, que criava esse ar grotesco que respiramos, que criava essa água podre que, corajosamente, ainda bebemos. Disseram-me que meu bife era um pedaço da Amazônia e mais litros de água do que uma criança toma por semana em certos países, que pago a morte de crianças com meu baseado diário, que mato de fome centenas de conterrâneos com meu voto indiferente.
Deram-me tanta responsabilidade que cheguei a esta missiva que lêem agora.
Não estou nesse mundo para salva-lo, mas não quero viver sabendo que estou matando-o
Ela, a primeira, não entrou por acaso. Tinha o dom de me saber. E como sabia. Foi ,sabendo sobre mim ,que sussurrou. Foi, de tanto eu também saber, que ouvi o sussurro como uma oração. E ela me pedia socorro, e eu atendia. E assim soubemos um do outro. Ela suspirando e eu atendendo. E como uma oração, nutrido pelas promessas e pisoteado pela realidade. E assim soubemos que não bastava sabermos um do outro. Ainda sabemo-nos, mais que ontem, e por isso, talvez, rezemos um pelo outro.
Ah! A segunda. Digna de pensamentos sórdidos, e cálida como freira. Nossas noites desenhavam o Rio. Descobríamos, descobríamos e descobríamos. Ela descobria o primeiro amor. Eu descobria as primeiras tentações. Sua descoberta tinha medo da minha. A minha, medo de dar as caras. As tentações são o universo do coração jovem, são a criação e apocalipse, Brahma e Shiva, criam, massacram, atormentam, destroem e renovam. Dessa vez nos separou. E recriou.
Como o terceiro de Teresinha, a terceira me negava tudo, não dava nada. E, por mera coincidência, ela ficou. Coincidiram muros, desesperanças e desalentos. Tanto vazio bem que engendrou. Tanto nos negamos que explodimos num Sim para sempre. Era certo, era sempre, era poético, era Romântico. E por Romântico nunca morreu. Mas uma alma muda. E, por coincidência, mudamos juntos. As almas mudaram para distantes umas das outras. O que ficou do primeiro abraço foi um mundo, cercado pelos muros que outrora impediram a construção desse mundo. Ele sobrevive, em algum lugar do universo, sendo desgastado pelo tempo, apenas sobrevive. E as almas andam.
E as almas que se atrevem a vagar, correm sempre o risco de pousar de repente, sem planos, sem esperar, sem esperar nada. E assim essa alma encontrou lindo lugar para aterrissar. Não mais que duas semanas ela ficou. E a alma e o lugar não viraram corpos, continuaram almas e cresceram almas. Inflaram se saboreando, uma alma cativando a outra, recitavam-se Caetano, cantavam-se Manoel de Barros. “Do lugar de onde estou, eu já fui embora.” Fui, então. Sem tempo para dizer adeus. Deixando de ser alma. Sem tempo para vagar demais, pois a alma grande pesa ao corpo. E corpo e alma tendem a se cansar.
Mas a alma ousada, teimosa, atentou outra vez contra a sanidade. E me trouxe o inesperado. E se a alma cansada vê-se defronte ao inesperado, ela recorre à não pensar. E não pensando, essa alma me pregou uma peça. Fez-me amar um amor sem lógica, digno dos bufões. E por ser clown, foi belo. Daqueles sem explicação, sustentado apenas pela ilusão. Daqueles que nada importa, porque realmente nada importa. Eu lhe dei um corpo e ela me deu uma alma nova. Um novo sopro de alma para aquela já tão cansada. Éramos felizes, como os bufões, que nas “tardes de domingo choram”. E chorávamos a alegria e a desesperança. Não a mesma de outrora. Essa desesperança não tinha cartas do passado. O futuro arrancava, pouco a pouco, lágrimas, que endureceram a alma. E na despedida – como o futuro nos dissera – a alma daqui se sentiu calcificada.
Mas vejam como as coisas são! Mesmo a mais dura das almas tem suas fraquezas. E justamente por tão rija, tão frágil. Tão frágil que foi sugada, arrebatada, sem tempo de se esquivar, de se preparar. E ainda sem se recuperar da tontura de amar mais uma vez, já amava ao som do jazz, já tinha corpo que transpirava e vociferava os palavrões do amor carnal, rock ´n roll, já se deliciava em conversas de travesseiro bossa nova. Em todos os ritmos trazia todas as forças do passado. Os desalentos, Brahma e Shiva, Caetano e o Clown. Tonto, num mesmo amor, era chama plácida e pudor cético, esquerda e direita, ódio, desalento e Vaudeville.
E sem blasé, eis que vaga a alma, que tantas almas foi e o é. Alma do saber, que descobre, que foge e dança, recita e some, é estúpida e ama, pasma e se entrega sem resistir. Enquanto isso, Ela dorme sobre minha mão.
Sei que agora deves estar com ela bem ao teu lado
Sei que agora não passo de um rabisco deste imenso retrato
Mas te peço que quando acabares com tudo, quando raiar o dia
E as velas apagarem pra ides embora
Lembra de mim.
Depois que vires e viveres a boa vida de um deus, a boa trama dos céus,
E gastares as forças para embebedar-te de alegria,
depois que descobrires a alegria, no cair do outro dia,
quando tudo está parado e igual,
Lembra de mim.
Mesmo distante e eu te esperando
Lembra de mim!
Nossas crianças, nossa Aliança,
Lembra de mim!
Fidelidade e fuga lado a lado
Como as caras desta moeda
Como as facetas destas idéias.
Lembra de mim?
E se quando ela te beijar, esqueceres de mim, não faz mal.
Se ao vires o meu retrato, se quando leres minhas cartas,
ou quando assistires àquele filme que um dia nunca vimos juntos,
se assim detestares pensar em mim, pelo menos tenho a certeza,
na mais triste das naturezas, no vaziode uma lembrança amarga...
Que lembras de mim.
O Minc é a verdadeira oposição que existe nos Poderes brasileiros!
Não interessado em gastar latim discutindo a quimera da dicotomia PSDB-PT, usarei o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc como plataforma para mirar e maldizer nosso congresso.
O primeiro sinal de que alguém é “diferença” está nas alcunhas atribuídas a ele (a). Essas, geralmente carregadas de depreciação. Um ponto para o Minc, já chamado de irresponsável, idiota, desqualificado, traficante – verbetes, obviamente, aureados pela verborragia dos congressistas contrários ao ministro.
O segundo é o que eu chamaria de “maldade” em saber achar a ferida de quem se quer opor e, é claro, cutucar. Mais um ponto! Nosso ministro chamou os deputados ruralistas de vigaristas por tratarem a agricultura familiar como agronegócio. Abespinhados, deram o troco com as seguintes palavras:
“O palavreado de Minc é característico daquele usado nos morros da Rocinha em conversas com traficantes de drogas... Não venha trazer esse palavreado para cá. Nós deputados não aceitamos esse tipo de provocação de um ministro que não tem um mínimo de saber ao não assumir a liturgia do cargo."
Pois bem, senhores, assumir a “liturgia” é a maior ferramenta de mediocridade que os deputados possuem. Ora, os bons-modos pouco permitem para se mostrar o que há de podre no sistema legislativo ou qualquer outro. Sob a égide da liturgia, não se pode ser enfático sobre a verdade. E foi mandando essa tal “liturgia” para a casa das mães dos parlamentares, que o ministro mostrou fatos.
A bancada litúrgica é a maior responsável pela manutenção latifundiária no país. A agricultura familiar é, sim, muito diferente daquilo que esses deputados defendem. São os mesmos deputados que tencionam aprovar o “licenciamento ambiental por decurso de prazo”, que permite início de certas obras com licença ambiental automática. Um prato cheio para continuar a destruição da floresta amazônica em PG.
O próximo ponto do Minc Opositor vem de sua anti-imagem (ou imagem). Não satisfeito em ser força minoritária no discurso realista a favor da sustentabilidade, esse personagem do Executivo participou da marcha pela descriminalização da maconha – outrora proibida na maioria dos estados brasileiros – e defendeu a criminalização da homofobia. Como não podia ser diferente, ganhou mais alguns comentários dolorosos e doloridos. Foi interessante ouvir um apresentador de jornal da Rede Bandeirantes tachar de irresponsável a presença de Minc na marcha (adoro quando as coisas incomodam quem se sentia confortável em sua poltrona).
É muita cara à tapa para um cidadão.
O personagem Minc é, para mim, o oposto do personagem Congresso Nacional. Se o Minc sabe que a criação de gado extensiva e as empresas madeireiras são os carros-chefe do desmatamento na Amazônia, o Congresso crê que sustentabilidade é anti-progresso. Se o Minc acha que sua importância política ajuda a chamar olhos para causas como a descriminalização da maconha, e os crimes de preconceito como a homofobia, o Congresso imagina que o tráfico tem uma linguagem identificável, diferente do eloqüente discurso dos incorruptíveis senhores de nosso Estado e que a liturgia da posição que ocupam merece que não se descubram os espinhosos temas da nossa sociedade.
Eis uma fórmula interessante para a vida: falar bem nos dá direito a mensalão, abuso de cartão corporativo, viagens internacionais para toda a família à custa da viúva, desvio de verbas de obras públicas, etc.
Ouvíamos Miles Davis. ´Round midnight. Hora tétrica para os solitários, e terna para os amantes. Você sorria enquanto divagávamos sobre os amores. Sorria.
Lembro desse sorriso fugidio como a impressão divina da serenidade. Estávamos serenos a dissertar sobre amores. Amores dos outros.
Os amores dos outros, dizíamos, esses que se falseiam em manchetes de revistas populares. Amores populares. Tão populares que. ‘round midnight, eram incertos, frágeis sobre palafitas de corações inseguros, ciumentos, corações exigentes e intransigentes. Coroados com a marca das instituições burguesas deselegantes e pouco criativas, os amores dos outros não amam ‘round midnight, são sombras dos primeiros acalantos, exigências dos primeiros carinhos,que nomeiam-se eternos, únicos e incondicionais. Os corações intransigentes se adiantam aos seus receios, e guarnecem-se, decaídos, sob a égide das proibições.
Ouvíamos Miles Davis e você sorria.
- Eles não podem ser sinceros!
Pensávamos como era impraticável a franqueza dos corações proibidos. Corações encarcerados não sentem senão o que já esperavam sentir, no máximo, o que convém sentir.
E como é pouco o amor que convém.
A essa altura, amávamo-nos soberbamente. Com a audácia inconseqüente dos descobridores. E “conseqüências” são apenas abstrações que pesam sobre a liberdade dos espíritos rotos. E eu sorria com você nossa fortuna e liberdade.
...
Mas que canalhas as abstrações que se materializam! Nefasta Providência, que amolece as asas dos amantes quando no zênite. Por que levaram seu sorriso?
Sucumbimos, minha amada. Nosso amor se tornou popular. Esvaneceu-se o mundo ilusório dos que são capazes de se enternecer à meia noite. Em cálidos segundos, nos desvão dos amores arrebatadores, sucumbimos à conseqüência.
...
Mas hoje, minha querida, ouvimos Miles Davis, ´round midnight, e nos atrevemos a amar afoitamente, inconseqüentes e arrogantes. Arrogantes, alçamos novamente nosso sincero desprezo pelo que convém.
A primeira personagem é Amor, uma meretriz aviltada pelas bocas diversas, que de tudo ouviu sobre seu nome. Prostituta tímida, que não tem uma cara, não tem companhia, não passa do ideal dos pobres de espírito. Pobre dela. Traz no nome tudo que o mundo não tem, mas não possui, em si, o que o mundo quer. Amor é puta, Amor dá-se de qualquer jeito, Amor não passa do relicário que nunca teremos em mãos, por vinte contos de réis ou por mais de uma hora. Pobre dela, não quer mais que um lugar, longe dessas bocas desalmadas que envilecem seu nome, longe desses corpos animosos e crédulos de piedade. Amor não quer sua piedade, nem sua devoção. E são tolas as almas desse enredo, pois crêem que essa personagem lhes quererá. Amor não quer vocês, bêbedos pedantes e ignorantes. Quem lhes quer não vive esta prosa. Solidão lhes encontrará um dia.
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Nossa próxima personagem se chama Vaidade: uma coruja sábia. Dona das vidas, enxerga mais que seus viventes. Vidente, não perde uma luta sequer. Curinga. Tem, debaixo de uma asa, o calabouço dos inseguros, e sob a outra, o cárcere dos augustos. Vilã, logra Amor, transforma-a em coadjuvante miserável, em auto-penitente cristã, pois seus seios e sua face se fazem lago narcísico para a outra. Vaidade corrompe, degenera, é cataclísmica. Sua força vem da impureza dos Homens, da idiotice Romântica de Amor e da megera beligerância dos deuses. É cúmplice de Hera – ciumenta – e carrasco de Athena – tola. É, acima de tudo, sedutora.
...
Por último, nessa trama, o Sexo. Pueril adolescente, de explosão inconseqüente e motriz. Mas que não é dotado da malícia sorrateira dos demais. É um pária aventureiro, sincero e acéfalo. Sexo é a tradução do forte bobo. É vigoroso, mas tapeado sub-repticiamente pelos algozes de intelecto voraz. Não deseja mais nessa vida que a eternidade ao lado de Amor. Doce ilusão. Já vos mostrei que aquela não se dá mais que quimericamente. Acreditou, esse tolo ídolo, que a Providência selaria tão absurdo casamento. Crente das palavras falazes da Vaidade, foi alvo de imenso engano. Este é o nosso personagem Sexo, que, pueril, como já falado, deixa-se abater pelo desleixo a que é relegado, deixa-se sobrepujar por uma Amor fugaz e indecisa e é manipulado pela Vaidade sábia e maliciosa.
Bom... O que acontece ao longo da história vocês já conhecem. É novela.